Walter Pinto na Memória do Mundo

Na última década do século XX, Frederico Mayor Zaragoza, então Diretor-Geral da Unesco, viu as perdas irreparáveis da Biblioteca de Sarajevo durante a Guerra da Bósnia. Com uma preocupação em não permitir que grandes acervos se perdessem novamente, a organização criou, em 1992, o Programa Memória do Mundo (Memory of the World - MoW). O objetivo era simples: preservar e dar acesso a acervos que carregam a memória coletiva e documentada de todos os povos da humanidade, elegendo-os como patrimônios culturais através da aprovação de um comitê e tornando-os parte do Registro Internacional de Patrimônio Documental. Com o conhecimento do valor de seu acervo, a Fundação Nacional das Artes (Funarte) candidatou a riquíssima documentação de Walter Pinto (1913-1994) ao registro, que foi conquistado em novembro de 2023. A documentação do produtor e autor está sob a guarda do Centro de Documentação (Cedoc) da FUNARTE e além de ser considerada relevante para a história do teatro brasileiro e a divulgação da música e da cultura popular, também é uma fonte primária de informações sobre o Teatro de Revista, pois contém documentos que registram os processos de criação e produção de espetáculos. O Fundo Walter Pinto abrange aproximadamente sessenta anos de produções teatrais de revista no Brasil e nos países vizinhos da América Latina e conta com textos, programas, partituras e fotografias de artistas e espetáculos, bem como documentos administrativos da Companhia Walter Pinto, cujo auge ocorreu nas décadas de 1940 e 1950. Sobre Walter Pinto (1913-1994), foi em 1940, que o carioca sofreu com a morte prematura de seu irmão Álvaro, deixando as ciências contábeis e assumindo a empresa de seu falecido pai. O que talvez não soubesse na época é que acabava de iniciar a terceira, última e mais gloriosa fase do Teatro de Revista, revolucionando o gênero teatral. Trouxe o deslumbre dos espetáculos para os palcos com shows de luzes, cenários grandiosos e coreografias elaboradas, conquistando o público pelo luxo que presidia cada detalhe do show. Walter tinha um belo temperamento artístico, arrojo e imaginação, não deixando de lado sua fama de intrometido, autoritário e narcisista ao sobrepor seu nome e imagem em cartazes e promover o slogan: "Se você não pode ir a Paris, Paris virá até você nos espetáculos de Walter Pinto". Não era para menos. O produtor chegou a ganhar uma medalha do exército por seus espetáculos gozando as forças do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, e foi o grande responsável por revelar e consagrar artistas como Dercy Gonçalves (1907-2008), Virgínia Lane (1920-2014), Mara Rúbia (1919-1991), Elvira Pagã (1930-2003), Brigitte Blair (1942-), Íris Bruzzi (1935-) etc. A grande mente artística e "rei do teatro de revista" partiu aos 81 anos quando faleceu devido a um câncer, deixando um legado imensurável para as artes no Brasil.

Fontes consultadas