Teatro de Revista


O Teatro de Revista!, gênero musical importado da França, tinha uma estrutura característica, fragmentada em quadros independentes que se conectavam através de um enredo frágil. Ganhou o público brasileiro em 1859, quando o espetáculo "As Surpresas do Sr. José da Piedade", de Justiniano de Figueiredo Novaes, foi apresentado pela primeira vez no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro (RJ). Não demorou muito para que sua popularidade aumentasse, desenvolvendo-se em três fases no Brasil. A primeira foi marcada pelas revistas e as burletas – isto é, espetáculos musicais com tema cômico e satírico – de Artur Azevedo (1855-1908), com uma linguagem que valorizava o texto ao invés da encenação, e trazia críticas de costumes através de versos e personagens alegóricos. As “revistas de ano” também se destacaram, apresentando, ao início de cada ano, resumos cômicos do que acontecera no ano anterior, com cenas curtas e episódicas relacionadas por uma linha narrativa normalmente conduzida por um grupo de personagens que transitavam pelo Rio de Janeiro à procura de algo, evidenciando diferentes cenários e parodiando acontecimentos reais. Na segunda década do século XX, deu-se início à segunda fase do Teatro de Revista, caracterizada pelo equilíbrio entre quadros cômicos e de crítica política, e os números musicais e de fantasia. Poucos e grandes artistas moveram a revista nesse período, quando existia uma competição amigável entre as primeiras estrelas de cada companhia pela atenção do público. À época, o elemento espetacular começou a ganhar força estendendo-se para a terceira fase e última fase, quando atingiu o auge. Essa fase foi marcada por grandes acontecimentos: a fundação da Companhia Nacional de Revistas e Burletas pelo empresário ítalo-brasileiro Pascoal Segreto (1868-1920) no Teatro São José (RJ); a vinda da companhia francesa Ba-ta-clan, trazendo para o gênero a valorização do corpo feminino, despindo-o das características meias grossas e exaltando-o em danças, quadros musicais e fantasias; a influência dos ritmos americanos na companhia de Jardel Jércolis (1894-1944) perceptível através da substituição da orquestra de cordas por bandas de jazz e a incorporação da performance física do maestro como parte do espetáculo; a influência de Manoel Pinto que fundou a própria companhia, a Companhia de Revistas Margarida Max, e revolucionou as revistas com espetáculos grandiosos, incluindo autores e atores próprios. Os passos de Manoel Pinto fizeram seu legado se estender para a terceira fase, através de seu filho, Walter Pinto (1913-1994). Na verdade, a “fase féerie", como ficou conhecida, se deve quase que completamente à gestão do autor e produtor, que quando assumiu os negócios da família após o falecimento de seu pai e de seu irmão, trouxe a companhia familiar a um novo nível e revolucionou as revistas. Rebatizada como Companhia Walter Pinto, sua estreia foi em 1940 com "É Disso que Eu Gosto", de Miguel Orrico (1903-1970), Oscarito Brennier (1906-1970) e Vicente Marchelli. O título foi extraído da música cantada por Carmen Miranda (1909-1955), que estava à frente do elenco, junto a Oscarito e Margot Louro (1916-2011). Walter Pinto resolveu enfatizar a fantasia, tirando o foco do autor e dos primeiros atores. A grandiosidade e luxuosidade do espetáculo era seu objetivo e, por isso, investiu em grandes cenários com escadas, luzes e efeitos de maquinaria, coreografias fabulosas, coros e orquestras numerosos e figurinos que deslumbravam o público. Com o reconhecimento da companhia, aos poucos o meio artístico foi sendo impactado e se antes havia poucos artistas, que ganharam destaque cada um em sua própria companhia, agora eles revezavam-se em um elenco numeroso nos palcos em cada temporada. Apostando em artistas internacionais para compor os espetáculos, trouxe coristas francesas, argentinas e russas, que atuaram nas partes musicais, junto a um grupo de bailarinas. Vedetes, atores e atrizes como Grande Otelo (1915-1993), Mara Rubia (1919-1991), Dercy Gonçalves (1907-2008) e Virgínia Lane (1920-2014) marcaram suas produções, sendo as duas últimas, atrizes assíduas em seus espetáculos. Notavelmente o grande objetivo de Walter Pinto era divertir o público, em detrimento da trama, muitas vezes até mesmo deixando de haver uma história em seus espetáculos e investindo com frequência no tema do carnaval, pelo descompromisso, a musicalidade e o apelo ao corpo que envolve a festa. Sua ousadia e compromisso com o humor fez crescer, grandes espetáculos, como "Tico-tico no Fubá" (1944) e "Quê Que Há Com Teu Piru?" (1947). Entretanto, gradativamente a revista começou a mudar o estilo de seus espetáculos, gerando polêmicas entre o público e levando a decadência do Teatro Revista, que praticamente se extinguiu na década de 1960. Alguns de seus grandes sucessos disponíveis no acervo da Funarte são: "Assim... Até Eu" (1941), de Olavo de Barros e Saint-Clair Senna; "A Cabrocha Não É Sopa" (1941), de Freire Jr.; "Comendo as Claras" (1943), de Paulo Orlando e Walter Pinto; "Momo na Fila" (1944), de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto; "Bonde da Laite" (1945), de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto; "Rabo de Foguete" (1945), de Luiz Peixoto, Saint-Clair Senna e Walter Pinto; "Não Sou de Briga" (1946), de Freire Jr. e Walter Pinto.


Fontes consultadas


FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES. Brasil: memória das artes, 2023. Disponível em: https://portais.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/. Acesso em 23 de nov. de 2023.
TEATRO de Revista. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 de dez. de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
WALTER Pinto. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: . Acesso em: 06 de dez. de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7