No dia 12 de maio de 1921 nascia a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio internacional. Não somente uma atriz brasileira, uma atriz brasileira preta, a carioca Ruth de Souza (1921-2019) foi a Veneza (Itália) receber o prêmio Leão de Ouro (1954) por interpretar a personagem "Sabrina", uma mulher escravizada, no longa-metragem "Sinhá Moça" (1953), que retrata os últimos anos da luta abolicionista no Brasil. Diretamente influenciada pelo gosto artístico de sua mãe que a encorajava a frequentar cinemas e teatros, iniciou sua carreira aos 17 anos, quando subiu ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) para participar do espetáculo "O Imperador Jones", de Eugene O’Neill (1888-1953), junto a companhia Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias Nascimento (1914-2011). Após estrear nos palcos e nos cinemas, a atriz conquistou uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller e foi estudar teatro nos Estados Unidos, passando pela American National Theater and Academy (EUA), a Karamu House (EUA) e a Universidade de Harvard (EUA). Quando retornou ao Brasil, sempre engajada em discutir pautas sócio-étnicas através de sua arte, o papel de "Sabrina" a aguardava. Depois do Leão de Ouro, sua carreira nos cinemas decolou, atuando em filmes como “Candinho” (1954), de Abílio Pereira de Almeida (1906-1977), “Osso, Amor e Papagaios” (1957), de Carlos Alberto de Souza Barros (1927-2002) e César Memolo Júnior (19--) e “O Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Farias (1932-2018), mas foi nas telas das casas do povo brasileiro que a atriz escolheu estar a maior parte de sua carreira. Três anos depois de participar de sua primeira novela, "A Deusa Vencida" (1965), de Ivani Ribeiro (1922-1995), na TV Excelsior, a atriz foi contratada pela TV Globo, onde participou de mais de 30 novelas e atuou em grandes clássicos da emissora, conquistando o público. Alguns de seus grandes sucessos na emissora foram "A Cabana do Pai Tomás" (1969), de Hedy Maia (19–), sendo a primeira protagonista preta em uma novela, no papel de "Tia Cloé", uma das líderes do movimento a favor da abolição da escravatura nos Estados Unidos; "Os Ossos do Barão" (1973), de Jorge Andrade (1922-1984); "O Rebu" (1974), de Bráulio Pedroso (1931-1990); "Helena" (1975), de Gilberto Braga (1945-2021); "Duas Vidas" (1976), de Janete Clair; "Sinhazinha Flô" (1977), que traz o contexto da luta abolicionista e do movimento pela emancipação da mulher; "Sinal de Alerta" (1978), de Dias Gomes (1922-1999) e Walter George Durst (1922-1997), interpretando a operária Adelaide, que traz uma pauta ambiental, e "O Clone" (1994), de Gloria Perez (1948-). Em 1986, Ruth de Souza retornou ao clássico "Sinhá Moça", dessa vez no formato da novela de Benedito Ruy Barbosa (1931-), vivendo a escrava Ruth e contracenando com Grande Otelo (1915-1993). Com Otelo, Milton Gonçalves (1933 - 2022) e Aída Lerner (1964-), também fez parte da interpretação da primeira família preta de classe média em uma novela brasileira, a novela "Mandala" (1987), de Dias Gomes (1922-1999). Sua última aparição pública foi na TV Globo, na participação da minissérie "Se eu Fechar os Olhos Agora" (2018) e, no ano seguinte, aos 98 anos de idade, faleceu no Rio de Janeiro em razão de complicações derivadas de uma pneumonia.
Confira essas e outras imagens no acervo da artista.
Fontes consultadas
MEMÓRIA GLOBO. Ruth de Souza. Memória Globo, 2021. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/perfil/ruth-de-souza/noticia/ruth-de-souza.ghtml. Acesso em: 24 jul. 2023.
OLIVEIRA, S. F. de. Ruth de Souza: mulher negra e atriz. 2013. 157 f. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2013.
PAULINO, R. A. F. Arte de uma pérola negra (Entrevista com Ruth de Souza). Comunicação & Educação: revista do Departamento de Comunicações e Artes da ECA/USP, São Paulo, n. 25, p. 61-78, 2002.