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Registro de autoridade
Oscarito
Pessoa · 16/08/1906-04/08/1970

Nasceu em Málaga, na Espanha, numa família de tradição circense em 1906. Estreou aos cinco anos no circo, no papel de índio, numa adaptação de "O Guarani" de José de Alencar. Trabalhou como violinista, palhaço, acrobata e trapezista, antes de fazer sucesso como ator. Em 1932, época do teatro de revista, Oscarito foi convidado por Alfredo Breda a satirizar o presidente Getúlio Vargas em "Calma, Gegê", no Rio de Janeiro. Em 1935 estreou no cinema em "Noites cariocas", junto a Grande Otelo, com quem faria dupla em 34 chanchadas do estúdio da Atlântida, entre as quais "É com este que eu vou", "Três vagabundos", "E o mundo se diverte", "Carnaval de fogo" e "Aviso aos navegantes". Seus filmes mais expressivos foram dirigidos por Carlos Manga: "Nem Sansão nem Dalila", "O Homem do Sputnik", "De vento em Popa" e "Matar ou correr"(uma paródia de um sucesso de Hollywood). Faleceu em 04 de agosto de 1970, no Rio de Janeiro.

Margot Louro
Pessoa · 23/11/1916-28/12/2011

Tem trabalhos realizados no teatro, cinema e televisão. Foi integrante da Companhia Manoel Pinto. Atuou na peça "Casa de bonecas" (1971). É filha da atriz Estefania Louro e irmã da também atriz Olga Louro. Foi casada com o comediante Oscarito e mãe da atriz e dubladora Miriam Teresa e o músico José Carlos. Nasceu no Rio de Janeiro, 23 de novembro de 1916 e faleceu em São Lourenço, 28 de dezembro de 2011.

Eva Wilma
Pessoa · 14/12/1933-15/05/2021

Nasceu em São Paulo, no dia 14 de dezembro de 1933. Participou do corpo de balé da Escola Paulo Ballet, de Maria Oleneva. Em 1953 entrou na primeira turma de teatro de arena a chamado de José Renato. Tem trabalhos realizados no teatro, cinema e televisão. Foi casada com o ator John Herbert e depois com o também ator Carlos Zara. Faleceu em sua cidade natal no dia 15 de maio de 2021, aos 87 anos, vítima de um câncer no ovário.

Oswaldo Louzada
Pessoa · 12/04/1912-22/02/2008

Oswaldo Louzada, conhecido por Louzadinha, nasceu no Rio de Janeiro em 12 de abril de 1912 e faleceu em 22 de fevereiro de 2008. Foi um ator brasileiro. Mudou-se para São Paulo em 1944 onde, sob direção de Oduvaldo Viana, fez parte do elenco de rádio-teatro da Rádio Panamericana. Na ocasião era o noivo de Alair Nazarett, também atriz contratada para o mesmo elenco. Em verdade, porém, Oswaldo Louzada era mais ator de cinema. Nesse mesmo ano de 1944 fez os filmes, Gente Honesta e É Proibido Sonhar. De volta ao Rio de Janeiro, participou de Uma Luz na Estrada, Inconfidência Mineira, É Proibido Beijar, Mãos Sangrentas, Leonora dos Sete Mares, Rio Fantasia, Rico Ri à Toa, Mulher de Fogo, Esse Rio que Eu Amo, Assalto ao Trem Pagador, Gimba, Presidente dos Valentes, Lampião, Rei do Cangaço, Viagem aos Seios de Duília, Procura-se uma Rosa, Crônica da Cidade Amada e Uma Garota em Maus Lençóis. Em 1971, Oswaldo Louzada voltou seus olhos para a televisão e fez Bandeira 2 na TV Globo. Percebeu que a aceitação do público era maior do que o cinema e resolveu intercalar uma coisa e outra. Fez o filme Guerra Conjugal e novamente telenovelas. O papel em Mulheres Apaixonadas, de 2003, foi a sua consagração, e Oswaldo Louzada foi considerado uma "revelação" como vovô, parceiro da grande atriz Carmem Silva. Foi ator consagrado por longeva carreira dedicada ao teatro, cinema e televisão. Louzadinha destacou-se por transformar em ouro os pequenos personagens, com sua interpretação dedicada, rigorosa e de particular delicadeza. Louzadinha era um dos mais velhos atores em atividade do país, com 95 anos de idade.

Sergio Britto
Pessoa · 23/06/1923-17/12/2011

Filho de Lauro e Alzira, o pai era funcionário público e sua mãe, dona de casa. Sergio vivia com eles e o irmão, Hélio. Moradores de Vila Isabel, conhecido bairro carioca. Sua família era religiosa, tradicional e conservadora.
No teatro universitário amador, em 1945, fazendo o papel de Benvoglio em Romeu e Julieta, sua primeira experiência teatral, Sergio descobriu que o teatro seria sua vida. A montagem era dirigida por Esther Leão. No ano de 1945 abandonou a medicina para se dedicar à sua paixão. Chega a se formar em medicina, em 1948, mas não exerce a profissão. No mesmo ano, faz Horácio na histórica encenação de Hamlet, de William Shakespeare, na histórica montagem do TEB, que consagra Sergio Cardoso no papel-título.
Sergio foi o criador, diretor e ator do Grande Teatro Tupi, que foi ao ar durante anos na televisão (1955-1964). No elenco, nomes daqueles que vieram a ser os maiores expoentes da classe artística brasileira: Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Natália Timberg, Manoel Carlos, Fernando Torres, Zilka Salaberry, Aldo de Maio e Cláudio Cavalcanti, o teleteatro apresentou sob o seu comando repertório aproximadamente 450 peças dos maiores autores nacionais e estrangeiros. Depois de seis anos na extinta TV Tupi, o Grande Teatro transfere-se, para a TV Rio e depois, por seis meses, para a TV Globo - o programa "4 no Teatro", cerca de quinze teleteatros, referência na história da televisão e do teatro brasileiro, e também a estreia dos atores do Teatro dos Sete na Globo.
Em 1949, profissionaliza-se, fundando, com Sergio Cardoso, o Teatro dos Doze que tem Ruggero Jacobbi e Hoffmann Harnisch como diretores.
Em 1950, vai para uma companhia paulista encabeçada por Madalena Nicoll, onde atua em Electra e os Fantasmas, de Eugene O'neill, entre outros desempenhos, e realiza sua primeira experiência de direção, montando, em parceria com Carla Civelli, O Homem, A Besta e A Virtude, de Luigi Pirandello. Em 1952, excursiona com o elenco do Teatro Popular de Arte - TPA, atuando em Manequim, de Henrique Pongetti, com direção de Eugênio Kusnet, entre outras.
Em 1953, participa do primeiro elenco profissional do Teatro de Arena atuando em Esta Noite é Nossa, de Stafford Dickens, direção de José Renato; e dirigindo Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena.
Em 1953, participa do primeiro elenco profissional do Teatro de Arena atuando em Esta Noite é Nossa, de Stafford Dickens, direção de José Renato; e dirigindo Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena. Ainda entre os anos de 1950/55 fez parte da Companhia Maria Della Costa, onde realiza uma série de desempenhos decisivos, em cinco espetáculos dirigidos por Gianni Ratto, mestre que influencia sua evolução artística: O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh; Com a Pulga Atrás da Orelha, de Georges Feydeau; Mirandolina, de Carlo Goldoni; A Moratória, de Jorge Andrade; e A Ilha dos Papagaios, de Sérgio Tofano.
Em 1956, transfere-se para o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, já na fase de declínio da companhia, em que atua em A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrick, com direção de Maurice Vaneau, 1956; no ano seguinte, Rua São Luís, 27 - 8º Andar, de Abílio Pereira de Almeida, encenação de Alberto D'Aversa; e Um Panorama Visto da Ponte, de Arthur Miller, outra direção de D'Aversa, sua última incursão no conjunto.
Em 1959, formou sua própria companhia teatral, o Teatro dos Sete, com Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli, Alfredo Souto de Almeida e Fernando Torres, e apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a histórica montagem de O Mambembe, de Artur Azevedo. A Profissão da Senhora Warren, de Bernard Shaw, 1960; no mesmo ano, O Cristo Proclamado, de Francisco Pereira da Silva; e Festival de Comédia, 1962, que lhe vale todos os principais prêmios do ano, pela composição de papéis estilisticamente diferenciados em peças curtas de Cervantes, Molière e Martins Pena. Fora da companhia, ainda sob o comando de Gianni, faz Meu Querido Mentiroso, de Jerome Kilty, 1964, um virtuosístico dueto de câmara com Natalia Timberg, que a mesma dupla retomará 24 anos depois, numa remontagem de 1988; e Santa Joana, de Bernard Shaw, com direção de Flávio Rangel No mesmo ano, volta ao Teatro dos Sete para o espetáculo de despedida do conjunto, Mirandolina, de Carlo Goldoni.
Com o fim do Teatro dos Sete, associa-se a Fernando Torres e Fernanda Montenegro para bem-sucedidas montagens como O Homem do Princípio ao Fim, de Millôr Fernandes, e Volta ao Lar, de Harold Pinter, 1968.
Ainda em 1965, juntamente com Líbero Miguel, dirigiu a primeira novela da Rede Globo, Ilusões Perdidas, e no elenco estavam Emiliano Queiroz, Leila Diniz, Miriam Pires, Norma Blum, Osmar Prado, Reginaldo Faria, entre outros.
Em 1969, na TV Excelsior, Sergio dirigiu A muralha, de Ivani Ribeiro, baseada no romance de Dinah Silveira de Queiroz. A novela tinha no elenco Fernanda Montenegro, Mauro Mendonça, Rosamaria Murtinho, Stênio Garcia e Nathalia Timberg.
Com o fim do Teatro do Sete, funda, no Teatro SENAC, a sua própria empresa, a Sergio Britto Produções Artísticas. Ali, através de três espetáculos dirigidos por Amir Haddad, o ator mergulha nas novas tendências de representação e encenação, e dá uma guinada em sua carreira, rumo ao contemporâneo. É premiado pela atuação em Tango, de Slawomir Mrozek, 1972. Coproduz e protagoniza a versão carioca de Missa Leiga, de Chico de Assis, 1973. Destaca-se como um dos intérpretes de A Gaivota, de Anton Tchekhov dirigida por Jorge Lavelli, demonstrando maturidade interpretativa, em 1974. No mesmo ano, parte para outra colaboração com um consagrado diretor franco-argentino: sob a direção de Victor Garcia ensaia a adaptação de Os Autos Sacramentais, de Calderón de la Barca, numa produção de Ruth Escobar, onde, aos 51 anos, aparece pela primeira vez nu em cena; e durante seis meses percorre o mundo, apresentando-se no Irã, em Londres, Lisboa e Veneza. A peça não foi apresentada no Brasil que vivia os anos de censura da ditadura militar.
Em 1975, atua em A Noite dos Campeões, de Jason Miller, encenação de Cecil Thiré. Dirige a atriz Renata Sorrah, em parceria com Walter Scholiers, em Afinal... uma Mulher de Negócios, de Rainer Werner Fassbinder, em 1977.
Em 1978, fundou o Teatro dos 4 na Gávea, Os quatro, na verdade eram três: Sergio Britto, Paulo Mamede e Mimina Roved. Durante quinze anos produziram dezessete espetáculos de teatro da maior importância, entre os quais: Os Veranistas, de Máximo Gorki, 1978; faz o papel-título em Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho, tendo como diretor Nelson Xavier, Os viciados; Assim é se lhe parece; Tio Vânia; O jardim das cerejeiras, entre outras. O Teatro dos 4 se transformou numa trincheira de um repertório de alto nível e de produções bem cuidadas.
Em 1982, juntamente com fonoaudióloga Glorinha Beutenmuller, ajuda fundar a CAL (Casa de Arte das Laranjeiras), que hoje é considerada uma das escolas mais conceituadas na preparação do ator no Brasil.
Sergio dirige o espetáculo inaugural do conjunto, 1979; dirige o polêmico sucesso de Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, 1980; protagoniza Rei Lear, de William Shakespeare, encenação de Celso Nunes, 1983. Em 1985, está em Assim É... (Se Lhe Parece), de Luigi Pirandello, com direção de Paulo Betti; no mesmo ano, atua ao lado de Rubens Corrêa e Ítalo Rossi em Quatro Vezes Beckett, que marca o início da trajetória do diretor Gerald Thomas no Brasil. Trabalha em A Cerimônia do Adeus, texto e direção de Mauro Rasi, 1987, onde faz o papel de Sartre, e em O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov, 1989, como Gaiev.
Fora do Teatro dos Quatro, dividindo o palco com Tônia Carrero, e sob direção de Gerald Thomas, que influencia a fase mais recente do seu trabalho de ator, faz Quartett, de Heiner Müller, 1986.
Em 1989, assume a direção artística do Centro Cultural do Banco do Brasil - CCBB.
A partir de 1998, foi apresentador do programa semanal Arte com Sergio Britto, na TV Brasil.
Durante a década de 1990, à frente do Teatro Delfim, realiza, com sucesso, uma série de espetáculos musicais, assinando, em parceria com Clovis Levi, textos em que aborda períodos definidos da história e da música brasileiras, como Ai, Ai, Brasil, montagem em comemoração aos 500 anos do descobrimento, em 2000. No ano anterior, convida a jovem diretora Nehle Franke, conhecida em Salvador pela veemência e pessoalidade de sua linguagem, para dirigi-lo em Poder do Hábito, de Thomas Bernhard.
Morreu no dia 17 de dezembro de 2011 aos 88 anos de idade, no Rio de Janeiro, devido a problemas cardiorrespiratórios.

Fernanda Montenegro OFICIAL
Pessoa · 16/10/1929-

Arlette Pinheiro Esteves da Silva, mais conhecida por Fernanda Montenegro, nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 16 de outubro de 1929. Atriz. Uma das fundadoras do Teatro dos Sete, Fernanda Montenegro marca suas personagens com a sinceridade e o vigor que a tornam uma personalidade destacada na sociedade brasileira, conferindo-lhe o título de primeira-dama do teatro.
Começa a carreira no rádio, aos 16 anos. No teatro, sua primeira experiência é em uma produção de Esther Leão, onde conhece Fernando Torres, seu futuro sócio e marido. Em 1952, ingressa na companhia de Henriette Morineau, Os Artistas Unidos. Em 1954, estreia no Teatro Maria Della Costa - TMDC, atuando em O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh, um dos espetáculos mais importantes da companhia, com direção de Gianni Ratto. Permanece no TMDC por dois anos e tem seu primeiro papel de destaque, em 1955, interpretando Lucília em A Moratória, de Jorge Andrade, que lhe vale o Prêmio Saci e a promove ao estrelato. Em 1956, estreia no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, em Divórcio para Três, de Victorien Sardou, dirigida por Ziembinski, onde permanece até 1958, sendo premiada por dois trabalhos: com Nossa Vida com Papai, de Howard Lindsay e Rusel Crouse, 1956, a atriz se revela em plena maturidade artística e seu desempenho, que na opinião dos críticos faz valer o espetáculo, lhe confere o prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT; com a interpretação sincera e vigorosa de Vestir os Nus, de Luigi Pirandello, 1958, recebe o Prêmio Governador de Estado de São Paulo, e, novamente, o APCT. Diferente dos chamados "monstros sagrados" do teatro, Fernanda Montenegro assimila desde cedo a verticalidade do teatro, na figura do encenador: "... Eu vi que não era só dizer a frase com sujeito, verbo e predicado. Aquilo tinha uma imantação e cada período daqueles estava inserido numa cena, que tinha um batimento, que se unia a outra cena... E assim tinha um resultado não só artístico, mas social, político, existencial. Isso tudo dentro de uma visão estética do espetáculo que correspondesse a uma unidade cênica".
Funda o Teatro dos Sete, com Fernando Torres, Sergio Britto, Ítalo Rossi e Gianni Ratto, onde participa de todos os espetáculos até a dissolução da companhia, em 1965. Nesse período é três vezes premiada: pela interpretação em O Mambembe, de Artur Azevedo e José Piza, dirigido por Gianni Ratto, 1959, recebe o Prêmio Padre Ventura do Círculo Independente de Críticos de Arte; por Mary, Mary, de Jean Kerr, direção de Adolfo Celi, em 1963, é premiada pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais - ABCT; e por Mirandolina, de Carlo Goldoni, em 1964, recebe o Troféu Governador do Estado de São Paulo.
Gianni Ratto, que dirige a maioria dos espetáculos do Teatro dos Sete, traduz a importância da atriz em texto que comemora seus 50 anos de carreira: "A sólida estruturação moral, a noção crítica que ela tem de seu trabalho na perspectiva histórica de suas origens e do mundo ao qual pertence e que ela mesmo criou para si, emprestam ao seu trabalho o cunho do severo e implacável profissionalismo de um artista da Renascença".
De 1966 a 1968, Fernanda atua em quatro espetáculos, dirigida por Fernando Torres, e recebe o Prêmio Molière por A Mulher de Todos Nós, de Henri Becque, 1966; e por O Homem do Princípio ao Fim, de Millôr Fernandes, 1967. Na década de 1970, atua em Oh! Que Belos Dias, de Samuel Beckett, com direção de Ivan de Albuquerque, 1970; O Marido Vai à Caça, de Georges Feydeau, dirigida por Amir Haddad, 1971; O Interrogatório, de Peter Weiss, direção de Celso Nunes, 1972; O Amante de Madame Vidal, de Louis Verneuil, direção de Fernando Torres, 1973. É premiada por Seria Cômico ... Se Não Fosse Sério, de Dürrenmatt - Troféu Governador do Estado e Prêmio da Associação dos Críticos Teatrais de São Paulo - e A Mais Sólida Mansão, de Eugene O'Neill - Prêmio Molière - ambos em 1976. Com o espetáculo É..., de Millôr Fernandes, 1977, passa 3 anos e meio em temporada, realizando, em quatro capitais, um recorde de apresentações ininterruptas.
Na década de 1980, seu espetáculo mais marcante é As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, de Fassbinder, 1982, pelo qual recebe os prêmios Molière e Mambembe. Macksen Luiz escreve sobre o desempenho da atriz no espetáculo: "Quando os refletores do Teatro dos Quatro iluminam um corpo de mulher no centro do palco, veem-se apenas as suas costas muito brancas e os cabelos desalinhados de alguém que desperta. Assim tem início para a plateia uma das mais emocionantes experiências que um espectador de teatro pode ter. O privilégio de assistir a um monstro sagrado mostrando, em forma plena, a extensão de seu talento. O seu porte de cena é de um animal, dono de sua liberdade de movimentos num espaço que é inteiramente seu. Há uma intimidade tão estreita entre a atriz e seu espaço de trabalho, que sua criação nada mais é do que um ato de intimidade. Cada pausa, silêncio ou movimento corresponde a um gesto que acentua a intimidade. A sua própria respiração é um elemento dramático tão forte que é impossível ao espectador da última fila deixar de ouvi-la. Fernanda agarrou sua Petra com seus 30 anos de carreira, fez dela quase uma soma das centenas de personagens que já interpretou, desenhando com uma técnica requintada a complexidade das emoções de uma vida. Não há nada que Fernanda faça como Petra que não seja fruto de um extenuante trabalho, mas ao mesmo tempo a carga de emoção que ela consegue projetar na personagem só pode ser explicada por um trabalho irretocável. A força e a inteligência da atuação de Fernanda Montenegro em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant nos devolvem a alegria de ir ao teatro".
Cinco anos depois seu desempenho é novamente consagrado em Dona Doida, Um Interlúdio, de Adélia Prado, 1987, valendo-lhe o Prêmio Molière. Em 1993, sobe à cena com a filha Fernanda Torres, para fazer uma abordagem sarcástica e grotesca da relação maternal em The Flash and Crash Days - Tempestade e Fúria, de Gerald Thomas. Nesse espetáculo feito de silêncio, em que o texto se resume a palavras ou frases só compreensíveis no contexto da ação, a atriz se expõe ao risco e à experimentação cênica.
No cinema, atua, entre outros, em: A Falecida, de Nelson Rodrigues, direção de Leon Hirszman, 1964; Em Família, roteiro de Oduvaldo Vianna Filho, direção de Paulo Porto, 1970; Tudo Bem, direção de Arnaldo Jabor, 1978; Eles Não Usam Black-Tie, direção de Leon Hirszman, 1980. No final dos anos 90, recebe todos os prêmios nacionais, cinco prêmios internacionais e é a primeira atriz brasileira a ser indicada ao Oscar pela atuação no filme Central do Brasil, de Walter Salles Jr.
Pela simplicidade, trabalhada e consciente, Fernanda Montenegro resiste ao papel de mito em que é rematadamente colocada e, nos momentos de homenagem, sempre obriga a audiência a se lembrar dos colegas de sua classe. Ao tentar definir seu estilo, os redatores não resistem a ampliar o olhar para mirar a pessoa e a cidadã. Como Caetano Veloso para o prefácio de sua biografia: "Há artistas que nos abalam com a potência do seu gênio; muitos, na tentativa desesperada de salvar o mundo, dele se afastam, às vezes virando as coisas à própria arte, à vida mesmo. Fernanda, artista de gênio, em nenhum dos três itens foge ao centro: no meio do mundo, no meio da arte, no meio da vida. É assim que a vejo, ela mesma pouco a pouco entendendo seu próprio destino. Esse destino que confere ao seu trabalho uma dimensão que transcende a evidente excelência: suas criações (...) descobrem (inventam) o sentido do nosso modo de ser; nos fundam, nos filtram, nos projetam. E nos acenam com enormes tarefas. (...) Em cena, ela estende um pano sobre a mesa, em silêncio, e tudo está dito sobre a mulher, a elegância, a condição humana e o teatro. De costas para a plateia, sua pele muito branca irradia uma intensa onda sensual, feita de fragilidade e firmeza, coragem e recato".

Fernando Torres OFICIAL
Pessoa · 14/11/1927-04/09/2008

Fernando Monteiro Torres nasceu em Guaçuí, no Espírito Santo, em 1927 e faleceu no Rio de Janeiro em 2008. Ator, diretor e produtor. Intérprete do Teatro Brasileiro de Comédia e um dos fundadores do Teatro dos Sete, Fernando Torres se destaca como diretor na década de 70, com espetáculos que primam pela precisão do ritmo e da marcação.
Estreia em 1949, atuando em A Dama da Madrugada, de Alejandro Casona, com direção de Esther Leão, no Teatro Universitário - TU, em que também estreia Nathália Timberg. Em 1951, ingressa na companhia de Eva Todor. Em 1954, vai para São Paulo com Fernanda Montenegro, com quem se casara em 1952. Contratado pelo Teatro Maria Della Costa - TMDC, na temporada de 1955, atua em O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh, faz a assistência de direção de Gianni Ratto em Com a Pulga Atrás da Orelha, de Georges Feydeau, e A Moratória, de Jorge Andrade, acumulando as duas funções em Mirandolina, de Carlo Goldoni, sendo dirigido por Ruggero Jacobbi; e A Ilha dos Papagaios, de Sérgio Tofano. Nos anos de 1956 a 1958, trabalha no Teatro Brasileiro de Comédia, TBC, como ator e como assistente de direção, e assina pela primeira vez a direção de um espetáculo em Quartos Separados, 1958.
Em 1959, funda, com Fernanda Montenegro, Sergio Britto e Gianni Ratto, o Teatro dos Sete, onde atua principalmente como produtor. Volta a dirigir, ainda na companhia, em O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, 1961, sendo premiado como diretor revelação. A partir de 1966, com o término do Teatro dos Sete, dirige uma sequência de espetáculos que o consagra em sucessos de público e crítica: A Mulher de Todos Nós, de Henri Becque, e O Homem do Princípio ao Fim, de Millôr Fernandes, 1966; A Volta ao Lar, de Harold Pinter, e Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri, 1968; e O Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, 1969.
Entre 1970 e 1972, volta a atuar, assinando também a produção, em: O Interrogatório, de Peter Weiss, e A Longa Noite de Cristal, de Oduvaldo Vianna Filho, ambos com direção de Celso Nunes, 1970; Computa, Computador, Computa, de Millôr Fernandes, 1971; e a temporada carioca de O Interrogatório, 1972, pelo qual recebe o Prêmio Molière Especial pela produção. Em 1973, o casal Torres sofre um prejuízo astronômico ao ser proibido pela Censura de levar à cena Calabar, texto de Chico Buarque e Ruy Guerra, montagem que já se encontrava em fase de ensaios gerais. No mesmo ano, Fernando recebe o Prêmio Governador do Estado da Guanabara pela direção de O Amante de Madame Vidal, de Louis Verneuil, que realiza diversas temporadas fora da cidade até voltar ao Rio de Janeiro em 1975. Neste trabalho, Fernando Torres vai além das intenções do autor, comentando o próprio texto e convertendo sua futilidade em uma visão crítica sobre os costumes da época. Sobre este trabalho, o crítico Yan Michalski escreve: "(...) A direção de Fernando Torres, simples mas espirituosa, bem ritmada e sofisticada, mistura em doses equilibradas uma empostação 'para valer', que leva a sério as bobagens de Verneuil, e uma sutil crítica a essas mesmas bobagens".
Em 1973 atua em Seria Cômico ... Se Não Fosse Sério, de Dürrenmatt, com direção de Celso Nunes, que permanece em temporada até 1976, quando recebe o Prêmio da Crítica Teatral da Cidade de São Paulo como melhor ator. O crítico Sábato Magaldi comenta que "o Edgar de Fernando Torres impressiona também pela pungência e pela energia" e o crítico do Diário de São Paulo escreve que "Fernando Torres entrega-se de corpo e alma a um papel que exige o máximo do intérprete e somente um veterano do palco poderia criar".
Em A Mais Sólida Mansão, de Eugene O'Neill, 1973, Fernando Torres reúne as funções de diretor, produtor e ator. Depois de produzir e atuar em É..., de Millôr Fernandes, 1977, diminui seu ritmo de trabalho e, deixando de dirigir, trabalha como ator e produtor em Assunto de Família, de Domingos Oliveira, com direção de Paulo José, 1980; e Fedra, de Jean Racine, encenação de Augusto Boal, 1986, e apenas como ator em Rei Lear, de William Shakespeare, numa produção do Teatro dos Quatro, 1983. Produz, na década de 80, os espetáculos de Fernanda Montenegro: Dona Doida, Um Interlúdio, de Adélia Prado, direção de Naum Alves de Souza, 1987; e Suburbano Coração, texto e direção de Naum, 1989. Produz, também, em 1994, Gilda, de Noel Coward, em que Fernanda é dirigida por José Possi Neto.
No cinema, Fernando Torres atua, entre outros, em Engraçadinha Depois dos Trinta, de J. B. Tanko, Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade, Tudo Bem, de Arnaldo Jabor, Veja Esta Canção, de Cacá Diegues, 1994, e A Ostra e o Vento, 1997.
O ator Otávio Augusto dá seu depoimento sobre o trabalho de Fernando Torres: "O momento mais sublime que eu vi de um ator em cena foi quando assisti Longa Noite de Cristal com Fernando Torres. (...) Tive oportunidade de trabalhar com Fernando como diretor, em O Amante de Madame Vidal. Com sua sensibilidade e confiança, eu junto com Fernanda conseguimos momentos brilhantes. O produtor Fernando é uma pessoa que respeita o ator. E o amigo eu descobri em O Interrogatório, quando entendi o sentido e a profundidade da palavra ao conversar com o senhor sobrevivente do campo de Treblinka. Não precisamos estar sempre juntos, mas a amizade, o respeito e o amor estão sempre presentes".